Ipê amarelo: A paixão que desabrocha em linhas

A primeira vez que vi um ipê-amarelo em flor, senti algo diferente, uma conexão profunda que não sabia explicar. Aquelas flores douradas, que brilhavam como pequenos sóis radiantes, deslumbrantes e, ao mesmo tempo, tão frágeis…

Em meio ao galho das árvores, o que parecia ser a morte se torna vida! Assim são os ipês ao florescer!

Em outubro de 2023, enquanto participávamos da ExpoRio, a Sedae RJ, distribuiu algumas mudas durante todos os dias de evento. Dentre as mudas disponíveis, la estava ela! A muda de ipê-amarelo!

Conhecida por sua folhagem aveludada, que a diferencia dos demais ipês, a muda de cor amarela, foi a que escolhi para mim!

Mas moramos em apartamento! Será que isso dará certo?

Plantei a minha muda no vaso e a coloquei em nosso terraço. Sol, vento, chuva, poeira… todas as características de um ambiente externo aberto: ali ela se instalou!

Árvore bruta e forte, de madeira dura, pesada e de longa durabilidade, assim são considerados os ipês. Aqueles que simbolizam nosso Brasil!

Florescem a partir de dois anos e no período de seca e inverno… isso é o que se afirmavam sobre eles, até o momento!

Há quatro semanas, ao avistar a minha muda de ipê, em dias que iniciei o enfrentamento de uma crise de asma e pneumonia, advindas de um possível COVID, me deparei com minha muda completamente desfalecida. Sem saber o que fazer e sem ter forças para agir, eu simplesmente pensei: “quando eu melhorar, vejo o que faço”… e saí! Triste e sem perspectiva, pois não tinha nem forças para fazer nada naquele momento…

Passadas três semanas de muita dor e sem conseguir nem mesmo cuidar das plantas, era sexta-feira e eu havia amanhecido melhor e então, resolvi verificar toda a situação que eu havia deixado de lado. Quando de repente e me deparo com a imagem mais linda e inesperada: O broto de uma flor!

Inacreditavelmente, a minha muda de 10 meses de plantação, e aproximadamente, 12 meses de vida, estava desabrochando sua primeira florada!!!

A transformação daquele galho que parecia seco e morto, na exuberante flor-amarela, trouxa um fascínio inimaginável! Nesse instante, a fotografia é o instrumento que nos permitiu eternizar cada momento desses quatro dias inesquecíveis de meu ipê.

Todos os dias, as cenas foram registradas para serem guardadas com essa história… História essa, que não ficaria completa se não houvesse a conclusão em forma de bordado!

Pois é! Eis que surge então a inspiração para mais um bordado: o nosso ipê-amarelo em linhas!

Buscando capturar não apenas a sua forma, mas também a sua essência, compartilho a árvore que se tornou paixão e visa refletir esse sentimento em cada ponto de arte e amor!

O primeiro quadro bordado: O começo sem fim!

Dia 13 de abril de 2021, foi a data de criação do nosso primeiro quadro! Um marco especial em minha trajetória com o bordado manual. Lembro me claramente da ansiedade e do entusiasmo que me invadiram ao tomar a iniciativa de começar a bordar, sem saber ao certo o que esperar e mal sabendo pegar na agulha! Pequeno era o projeto e gigante era o desafio e significado!

Estávamos no meio da pandemia do Covid 19 e foi um momento muito importante pela aproximação que tive com a minha mãe diante da situação de confinamento mundial e aí então, eu resolvi olhar para ela e entender todo o universo que já existia desde que nasci, mas eu nunca havia parado para compreender.

Minha mãe, a dona Dilma, que hoje aos 76 anos e bordadeira desde os 10. Bordar para ela, na infância, era como a tarefa da casa: todos os dias deveria ser feito!

Sua especialidade: ponto cruz! Uma técnica linda e perfeita, mas que pessoalmente falando, não combinava comigo e nem com aquele momento, visto que eu gostaria de praticar algo que fosse expandir a criatividade e não algo preso e robusto. Eu queria algo leve e desprendido de regras.

Ao analisar todo aquele cenário que eu avistei ela com os cadernos e livros de ponto cruz eu pensei: “Deve existir algo bordado que faça mais sentido para mim”… e foi então que comecei a minha pesquisa sobre bordado livre e no mesmo dia iniciei a experiência.

Dei um jeito de comprar tecido de algodão, uma caneta fantasminha e um bastidor. Catuquei as velhas caixas com pedaços de linhas de meadas e falei: “Mãe, me ensina um ponto? Eu quero bordar!” E ela caiu na gargalhada e me respondeu: “Ué! Como assim, você quer bordar? Isso não é coisa de velha?” e eu respondi: “Pois é, estou ficando velha!” e rimos juntas!

Foi aí que ela me ensinou o meu primeiro ponto: O ponto atrás! E a partir dali eu percebi que de algum modo eu já sabia o que fazer… tudo fez sentido!

Naquele momento eu havia escolhido um desenho simples, que fosse fácil de fazer para ter rapidamente aquele bordado pronto. Porém, a cada ponto eu me transportava para uma sensação de paz e nostalgia, como se eu estivesse tocando em algo ancestral e profundo. A perfeição não era o objetivo, o importante era sentir a textura do tecido, o deslizar da linha, o barulho da agulha e ver o desenho ganhar vida aos poucos, até compreender que o bordado não é pressa, e sim, calmaria!

Este quadro foi o começo de uma jornada de compreensão do poder transformador que o bordado tem. A partir dele senti a conexão não apenas com a minha criatividade, como também com a geração de mulheres que vieram antes de mim e principalmente, minha mãe.

Hoje, ao olhar para esse primeiro quadro, vejo mais do que uma peça decorativa que coloquei pendurada bem na entrada de minha casa… eu vejo o começo de uma história de amor com o bordado! Essa arte que é ao mesmo tempo, fuga e âncora, um lugar seguro onde posso me expressar e me reconectar com algo muito maior do que eu possa imaginar!

Meu primeiro bordado, meu Lar doce Lar de um começo ainda sem fim!

Bordado Manual e Memórias: Resgate e criação histórias

Bordar sempre foi mais do que apenas uma atividade manual. Bordar é expressar e eternizar histórias, sentimentos e raízes. Cada ponto, cada linha, carrega um pouco de quem somos e de onde viemos.

O blog Café e Arte nasce da vontade de compartilhar nossas vivências com o bordado e através disso, conectar gerações, mostrando toda a beleza ancestral que habita em cada peça que criamos.

Venho de uma geração que se acostumou a compartilhar o seu dia a dia em plataformas de blog e fotolog, onde as fotos não apenas registravam momentos, mas também e principalmente, se preocupavam sempre em ter algo importante a dizer! Algo minucioso, detalhado, sem pressa… algo que pudesse de algum modo, através da escrita, alcançar o outro lado da tela do computador (hoje dos celulares!).

Agora, com o blog, a ideia é resgatar essa mesma essência, contando toda a história dos trabalhos bordados e seus processos criativos, nos melhores detalhes possíveis.

O bordado manual, tão delicado e único, é arte! Ele é herança passada de geração em geração, que faz manter viva as tradições de nossos ancestrais. Em cada técnica, há séculos de histórias! Bordar é uma forma de honrar essas raízes, se conectando com o passado e, ao mesmo tempo, criando algo novo, que carregará sua própria história para o futuro.

Queremos compartilhar todos os principais momentos da nossa jornada com as agulhas, linhas e tecidos, destacando toda a relevância do nosso trabalho e buscando levar entendimento através das expressões de arte.

Que este espaço seja um lugar de inspirações, trocas, experiências e propagações da rica tradição que é bordar e contar histórias!

Bem vindos, artlovers!!!